LEVE-ME PARA CASA!

Debruço-me sobre a bancada encarando um rosto conhecido.

- Você vem sempre aqui?!  - Ele fala.

         Após perguntar, ele abre um sorriso malicioso na minha direção, denunciando seus pensamentos impróprios. Solto uma risada breve da qual não consigo controlar. Querido, deixe de enrolação e leve-me para a sua casa. 

Me tome em seus braços e me guie pelas ruas frias da cidade enquanto me conta algo engraçado. Ajude-me a subir as escadas do prédio ou me beije lentamente no elevador, fazendo-me querer ficar por ali mesmo. Abra a porta deixando-me entrar primeiro, jogue a chave sobre o balcão e me puxe pela cintura trazendo-me a seu encontro. Deixe as luzes apagadas, a luz da lua refletindo sua janela já basta. Já me conhece bem, então me beije daquele modo que somente você sabe. Como um ritual, enquanto tira seu sapato me oferece uma bebida, enquanto eu sento na beira da cama. Você prefere andar descalço em casa, e eu sempre recuso por estar no meu limite de álcool. Tira o meu salto alto de uma forma charmosa, e olha-me ajoelhado a minha frente me fazendo idealizar o dia em que irá me pedir em casamento. E consigo imaginar. Mesmo sabendo que nós dois nunca chegaremos lá, faça-me perceber que jamais diria não a você.

Passe sua mão quente sobre a minha perna, aproxime-se com cuidado, fazendo com que ambos deitem em sua cama macia e note o jeito que minha respiração acelera com a sua presença. Diga-me como estou bonita está noite. Diga-me o que quiser e saberei que está certo. Faça-me sentir-me segura. Passe seus dedos pelo o meu corpo, tem minha permissão. Eu quero. Por favor, cuide de mim. Faça-me esquecer dos meus problemas. Deixe-me vulnerável e livre. Nenhuma muralha está erguida neste momento, pegue o meu coração para si. Nós dois já sabemos que pertence a você. Deixe-me passar a minha mão sobre as suas costas, deixe-me cuidar de você. O mundo parece tão pequeno, nada mais me importa. Debruce sobre mim, encostando seus lábios no meu pescoço. Faça me pedir por mais. O efeito do álcool irá fluir pelos nossos corpos, misturando-se com o desejo. O cheiro de Vodka no ar. Percorra minha cintura e me beije como alguém que me ama. Faça-me sorrir. Faça-me agradecer por ter entrado na minha vida. Faça-me enxergar como as coisas são fáceis entre nós. Seja meu. E serei tua. Deixe-me te fazer feliz.

 Quero acordar pela manhã envolvida em seus braços, como alguém que é amado. Faça-me te amar a cada amanhecer. Estou farta desses joguinhos de sedução, vou agarrar o seu rosto com as duas mãos, assumindo o controle da situação, automaticamente irá sorrir na minha direção curtindo minha audácia. Nem imagina como lamento por você não me pertencer. E voltarei a te beijar, como alguém que te ama. E quando o sol surgir pela janela, será o aviso de que a vida continua. E nós nunca iremos continuar. 

Volto para a realidade, saindo dos meus pensamentos, ainda debruçada sobre a bancada. Ele me encara curioso, ainda com o sorriso malicioso estampado, aguardando a minha resposta. Aproximo e com um gesto de coração encosto meus lábios aos dele, beijando-o na frente de todos. E mesmo sabendo que estamos rodeados, ele retribui, sem conseguir dizer não para mim.

Afasto-me, tomando coragem para respondê-lo:

    - Eu sempre venho aqui. E é por você. 

Mesmo farta de carregar o que nunca seremos, caminho em direção à saída, como um convite. Segundos depois, ele me segue.

Milena Oliveira/ Tráfico de Conselhos.