APEGO É RAIZ

          Abrir mão. Deixar para lá. Deixar o que não deveria ser deixado, e mesmo assim, soltar a corda. Repetir diversas vezes até a sua mente entender que não era para ser. Não era seu. E ainda assim, sentir que foi. Era fácil até começar a ser difícil. 

         Tentar se livrar de todos os vestígios espalhados pela casa. Todas as memorias que passam pela sua mente como um trem, indo e voltando. Todos os pequenos motivos que ninguém presenciou, e que nunca foram contados para os amigos. A flor arrancada do canteiro, te colocar para o lado da calçada ao andar na rua, a risada se encaixando, as piadas internas, as ligações de horas, olha-lo dormir. O beijo de bom dia.  

Abrir mão, sabendo que o termino é a melhor opção e que novas histórias virão. E ainda assim, sentir que está perdendo. Fazendo querer segurar com todas as forças o que não deve. Se agarrar aos bons momentos. A facilidade que suas mãos se encaixavam, o modo que decoraram os horários um do outro. O cheiro dele nos lençóis. Isso tudo é raiz. E você tenta repassar na mente tudo que foi vivido em busca dos primeiros sinais do fim. E é difícil cortar toda expectativa e vinculo plantado, porque o apego tem raízes profundas. Mas não dá para lutar em uma guerra já perdida. É pedir para se machucar. Abra a mão. Não será outono para sempre só porque ele se foi e as folhas estão secando e caindo. A primavera irá vir e as borboletas voltarão, trazendo algo novo.  

Milena Oliveira /  Tráfico de Conselhos.