JÁ FAZ UM TEMPO

    Quase tudo acho graça, em tudo tenho raiva. Ando perdendo o controle, já tem um tempo. Tenho mantido o controle desde que você pediu um tempo. E agora pela manhã seguro a xícara tão firme quanto tua ida, beberico o café enquanto as memorias dos dias em que perdia o controle em seus braços me rondam. Malditas lembranças que ainda me assombram. As suas escritas permanecem arquivadas no baú do meu quarto, mas tua falta não me arde mais. Ontem olhei para trás, sem intenção nenhuma de te encontrar. E pude ver o que me negava a aceitar. Pude ver os motivos e os sinais. E daqui um tempo, não haverá mais nada a ser dito.  
    Já faz um tempo que não escrevo. E reparei que não percorro mais tuas linhas, suas dedicatórias não me pertencem mais. Não leio nada teu, já faz um tempo. Mas conheço teu talento, aceito que outras pessoas passem pelo teu roteiro. Continue escrevendo. Te desejo tudo que você coloca nas tuas escritas. E desejo para mim algo real. 
    Sei que você sabe o que poderíamos ter sido, assim como eu. É realmente triste saber que nossas linhas não se cruzaram novamente, e que é assim o nosso final. Mas em algum lugar, perdido no tempo, existe uma folha arrancada às pressas contendo um outro rumo para nós. Nunca saberemos. Mas nós sabemos. 

Milena Oliveira / Tráfico de Conselhos.